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A promessa de boas terras para o plantio de arroz fez com que o Samuel Ramilde, natural de Santa Catarina, arriscasse uma mudança para o Noroeste do Paraná, a mais de mil quilômetros de casa. Filho e neto de produtores de arroz, Samuel viu o cultivo evoluir com seu trabalho. Hoje, gerencia a plantação de 900 hectares de arroz irrigado, divididos entre as fazendas Volta Grande, em Santa Isabel do Ivaí, e Nova Brasília, em Santa Cruz de Monte Castelo.
Colheita de arroz em Santa Isabel do Ivaí
Mas o manejo não é solitário. Sua filha, Poliana Laurentino Ramilde Câmara, compartilha da mesma paixão desde criança. “Quando viemos para cá, eu tinha oito anos. Trazia almoço para o meu pai e brincava de esconde-esconde nas moitas de arroz. Comecei a gostar já naquela época”, lembra.
Depois de se formar em agronomia na Universidade Estadual de Maringá, voltou para casa com mais uma companhia: seu então namorado e hoje marido, Paulo Plaza Câmara, que deixou a carreira de corretor imobiliário para também se dedicar ao cultivo.
Desde 2016, os três dividem a gestão do plantio, o que anima Samuel a continuar investindo na produção. Poliana atualmente cuida da parte administrativa, envolvendo compras, vendas e estoque, e Paulo desenvolve o conhecimento de maquinário.
“Vim para o Paraná em 1998 decidido a ser alguém. Para quem eu era, hoje já sou milionário. Se não fossem eles, estaria plantando no máximo 600 hectares. Já tenho 61 anos, vou aumentar as coisas? Como eles vieram juntos e com vontade, estamos com 900 hectares”, diz Samuel.
A família vive um bom momento na sua trajetória desde o ano passado. O preço da saca de 60 quilos de arroz registrou uma alta histórica: segundo o Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento, a média passou de R$ 55,80 em abril de 2019 para R$ 72,77 em abril de 2020, e subiu para R$ 121,34 no mesmo período de 2021 - um aumento de 117,4% em dois anos e o maior valor desde 1995, início dos registros.
Boa Fase – Mesmo com a perspectiva de aumento no preço dos insumos, como adubo e diesel, esta é uma boa fase para os produtores da região. Santa Isabel do Ivaí, onde reside a família de Samuel, integra um anel de municípios do Noroeste que se dedicam à produção de arroz irrigado - uma cultura que demanda paciência e dedicação para controlar pragas como o arroz vermelho e a cigarrinha.
Atualmente, o Paraná tem 18,5 mil hectares destinados ao cultivo. Destes, 14,3 mil hectares estão na região e se dividem entre seis municípios: Querência do Norte, Santa Mônica, Santa Cruz do Monte Castelo, Planaltina do Paraná e Terra Rica, além de Santa Isabel do Ivaí.
Para 2021, a previsão é que a produção total do Estado alcance 146 toneladas de arroz em casca. Segundo o Censo Agro IBGE 2017, o Paraná é o sétimo estado do País em quantidade de arroz produzido, atrás de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Tocantins, Mato Grosso, Maranhão e Pará. A maior parte da produção é comercializada para consumo interno, no próprio Estado.
Duas Safras – Ricardo Domingues, engenheiro agrônomo do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná–Iapar–Emater (IDR-Paraná), explica que a região é campeã em produtividade no Estado. Segundo o Deral, a média de produtividade de arroz irrigado no Paraná é de 8 mil kg/ha ao ano.
No núcleo regional de Paranavaí, região que agrega os seis municípios produtores, a média é pouco maior: 8,4 mil kg/ha. Em Santa Isabel do Ivaí, o rendimento médio sobe para 9,5 mil kg/ha ao ano, sendo 23.988 toneladas colhidas em 2.525 hectares na safra 2020/2021.
“Santa Isabel do Ivaí é o município do Estado com maior produtividade, muito por conta da tecnologia que os produtores trazem para a região. São numericamente poucos, mas altamente tecnificados, estruturados, fazendo dois plantios por ano”, explica Domingues.
É o caso do produtor e engenheiro agrônomo Almir Bassani, que integra a terceira geração de produtores de arroz irrigado na família. Apesar da resistência familiar para que seguisse na roça após sua graduação em agronomia, Almir evoluiu suas técnicas de cultivo e, em 1999, saiu da região do Vale do Itajaí, em Santa Catarina, em busca das boas terras do Paraná. Nelas, descobriu que era possível aumentar a produção e realizar duas safras ao ano, com uma colheita maior em dezembro e outra, menor, em abril.
“Aos poucos, percebemos que em algumas variedades de arroz havia uma rebrota natural nas áreas de plantio depois da colheita. Começamos a colher essa rebrota, conhecida como soqueira. Por volta de 2005, passamos a preparar a terra novamente e fazer um novo plantio. A partir de 2010, percebemos que só amassando a palha residual da primeira colheita já era o suficiente”, conta.
Na prática, o calendário de cultivo começa em junho, com o preparo do solo. Entre o final de julho e começo de agosto, se dá o plantio, que leva 120 dias. Em dezembro é realizada a colheita da primeira safra. Na sequência, já se planta novamente, para nova colheita em abril.
Por fim, em maio, o processo recomeça, com a aplicação de defensivos. “O clima aqui nos dá uma janela de sete meses para o plantio, de julho a janeiro. É isso que permite essa segunda safra”, acrescenta.
Quatro Gerações – No início de sua história no Paraná, Almir arrendava 50 hectares com auxílio de dois funcionários. Hoje, são mil hectares e vinte colaboradores. Com as técnicas atuais, sua produtividade rende 9 mil quilos por hectare na primeira safra e 7 mil quilos por hectare na segunda, somando 16 mil quilos por ano.
“A diferença está no manejo, no cuidado, na dedicação, assim como em qualquer atividade. Nós conseguimos nos manter porque sempre produzimos bem”, afirma o produtor.
Almir também tem dois herdeiros para o plantio do arroz: seus filhos Fernanda Bassani, 27 anos, agrônoma e responsável pelo controle financeiro da produção, e Ricardo Bassani, 24 anos, estudante de engenharia agrícola e futuro responsável pelas operações.
“Meu pai é apaixonado pelo que faz, então em casa o assunto sempre foi arroz. Ele de certa forma nos preparou para isso, e o engraçado é que eu e meu irmão fomos cada um para um lado: eu fico mais no escritório, e ele nas máquinas, na parte operacional”, conta Fernanda.
O aprendizado adquirido e compartilhado de geração em geração é o que move tanto os Ramilde como os Bassani em busca de aperfeiçoar suas técnicas cada vez mais. Para a filha de Samuel Ramilde, Poliana, o segredo para o sucesso mistura o amor com a busca pela tecnologia. Atualmente, a produtividade nas terras gerenciadas pela família está em 14,8 mil kg/ha ao ano, sendo 8,7 mil kg/ha na primeira safra e 7,5 mil kg/ha na segunda.
“A gente está buscando a cereja do bolo, falta acertar só os pequenos detalhes para melhorar ainda mais a produtividade. E o que aprendi com meu pai desde o começo é fazer com amor, que tudo dá certo”, afirma.
Fonte: Agência Estadual de Notícias