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Começaram a aparecer na Santa Casa de Paranavaí as consequências das medidas adotadas para atender os pacientes contaminados com a Covid-19. Uma delas está bastante visível desde o último domingo, dia 9, quando o Pronto Socorro chegou a estar com 26 internados, ou quase 190% de sua capacidade de 14 leitos. A unidade continua lotada e acima da capacidade.
“Os pacientes de Pronto Socorro devem ficar ali entre 6 e 12 horas. Neste período o médico decide para onde o paciente vai. Se é uma situação simples, após a estabilização e observação recebe alta e orientação para procurar um especialista no dia seguinte. Se o caso é mais grave, encaminha para internação. O problema é que não está tendo leitos para internação”, resume a situação o diretor-geral administrativo do hospital, Héracles Alencar Arrais.
O Pronto Socorro da Santa Casa é o chamado de porta fechada: atende apenas pacientes encaminhados pelo SAMU, SIATE, pelos municípios da região (em ambulância), casos de vítimas de violência encaminhado por terceiros que serão comunicados à polícia ou atendimento particular (neste caso, só consulta).
Para Arrais, o colapso do Pronto Socorro, de certa forma, já era previsto. “Antes da pandemia já estávamos operando com o hospital lotado, com 100% de sua capacidade. A falta de leitos era e continua sendo um dos problemas mais graves do sistema de saúde pública de Paranavaí e região. Com a pandemia tivemos que desativar 40 leitos do atendimento geral para viabilizar os 30 leitos, 20 de UTI e 10 de enfermaria, para o SUS e mais seis, dois de UTI e quatro de enfermaria, para convênios e particulares, para atendimento dos casos de Covid. Outros quartos firam usados para instalar a estrutura de suporte, como posto de enfermagem. Se estes leitos não tivessem sido desativados, pelo menos dois terços dos pacientes que hoje estão no Pronto Socorro estariam internados”, explica Arrais.
A Santa Casa tem 169 leitos, dos quais 16 são de pediatria, 22 de maternidade e 10 de UTI neonatal. Para o atendimento adulto de patologias e traumas restam 121 leitos. É desse número que saíram os 40 leitos, ou seja, 30%, reduzindo a capacidade de atendimento como hospital geral. A Santa Casa atende pacientes de 28 municípios.
Demanda Reprimida - Neste cenário vale lembra que mesmo que haja vaga na Ala Covid ela não pode ser usada por doentes com outras patologias para evitar a contaminação. E quando o paciente tem uma doença contagiosa, ele acaba ficando em isolamento em um quarto sozinho, “desativando” o leito ao lado, agravando a situação de falta de leitos.
A explosão de casos que desaguaram no Pronto Socorro da Santa Casa é atribuída pelo diretor-técnico da Santa Casa, Jorge Pelisson a uma demanda que estava reprimida e agora começa a apresentar as consequências. “Muitos pacientes se auto reprimiram, ou seja, temendo ser contaminado pela Covid, evitaram procurar o hospital por algum sintoma mais leve, que agora se agravou. Casos que eram simples agora exigem mais cuidados e aumentaram o risco de um resultado desfavorável, exigindo mais tempo de internamento, mais medicação, mais atenção de médicos e de toda a estrutura hospitalar”, analisa o médico.
Outro complicador é que mesmo o paciente que procurou uma unidade de saúde quando teve os sintomas e o caso era de cirurgia, mas que poderia aguardar um tempo para ser realizada, agora se agravou. “O que era uma hérnia simples se transformou numa hérnia encarcerada, uma complicação que exige mais cuidados”, exemplifica Pelisson.
A suspensão temporária das chamadas cirurgias eletivas (que pode esperar algum tempo) foi determinada pelo Governo do Paraná através de uma resolução da Secretaria de Estado da Saúde (SESA). O objetivo foi assegurar leitos para os pacientes da Covid.
Impactos Financeiros – A redução de leitos e a suspensão temporária das cirurgias eletivas (as mais simples foram liberadas) têm outra consequência, além de comprometer o atendimento por falta de leitos: as finanças do hospital. “Reduzimos em 50% a nossa ala de atendimento a particulares e convênios”, conta Héracles Arrais. Esta redução foi para viabilizar a Ala Covid.
O atendimento particular e de convênios garante receita para fazer frente ao déficit causado pelo atendimento aos pacientes do SUS. Com a redução desta fonte, o desequilíbrio financeiro que a Santa Casa vem sentindo desde o início da pandemia tende a se agravar.
Até porque, além de reduzir a fonte de receita, com a Covid e a desativação de leitos, a Santa Casa ampliou proporcionalmente o atendimento ao deficitário SUS, passando de 76% em média para 90%, ou seja, o déficit está aumentando e a receita diminuindo.
A gravidade da situação foi discutida na manhã desta quarta-feira (12) pelos gestores do hospital: Arrais, Pelisson e os gerentes Marcelo Cripa (financeiro), Marily Vasconcelos Gomes (assistencial) e Joanna Maria Rodrigues de Oliveira (administrativa).
“Estamos muito preocupados. A situação agora já é delicada. E não sabemos como vai ser o pós-pandemia”, diz Arrais.
Fonte: Santa Casa de Paranavaí